Segundo Ary Moraes, no âmbito do jornalismo, a produção de infográficos está relacionada à etapa de planejamento da edição. Após a definição da pauta, é necessário escolher de que modo os assuntos serão apresentados aos leitores, sendo os avaliados a partir da questão: como o assunto pode ser melhor compreendido? Assim são escolhidos os recursos mais adequados à informação em questão: texto, fotografia, ilustração, etc. É preciso ter em mente que a função de um infográfico é esclarecer um assunto complexo, explicando-o de forma clara aos leitores.
Uma vez decidido a produção de um infográfico devem ser consideradas duas outras questões:
- Dispõe-se de informações suficientes para fazê-lo?
- Dispõe-se de tempo suficiente para produzi-lo?
Além disso, a infografia demanda o trabalho de direção: é preciso dividir o trabalho em etapas e procurar ajustá-las ao tempo disponível (nunca o contrário), deixando sempre uma margem de segurança para quaisquer eventualidades.
As etapas da produção:
O autor fornece o diagrama abaixo com um resumo dos procedimentos relacionados na produção de infográficos. Ele envolve necessariamente oito passos constantes. Em cada etapa deve-se avaliar a produção em relação ao objetivo a ser alcançado. O referido diagrama foi desenvolvido para um curso ministrado para o jornal Lance! É importante destacar o trabalho de direção presente na sequência e a importância da etapa de projeto.
Apuração: Levantamento das informações relacionadas ao tema. São acessadas as fontes, ou seja, as pessoas diretamente envolvidas – testemunhas, pesquisadores, autoridades, etc. – e realizadas entrevistas; feitas pesquisas bibliográficas; cruzamento de dados; testes, enfim, tudo aquilo necessário para que se construa o acervo mais abrangente possível sobre o assunto. Como um infográfico é o resultado da articulação de palavras e imagens em um só sistema semiótico, esse levantamento deve levar em consideração também as imagens – fotografias, vídeos, mapas, plantas, diagramas, ilustrações, etc – que possam fazer parte do trabalho ou servir como referências visuais para a produção. Destaca-se que trabalhar com imagens requer um aprendizado diferente, uma (outra) alfabetização, já que é preciso considerar aspectos ligados aos limites da figura, sua relação com o fundo, a influência da luz e das cores, proporções, associações simbólicas, perspectiva, textura, dinâmica, etc.
Seleção dos dados: As informações levantadas são avaliadas em relação ao objetivo do infográfico. Se forem relevantes para o entendimento do tema, se for possível explicar o tema a partir delas, tais informações serão selecionadas para compor o trabalho.
Projeto: As informações levantadas e selecionadas podem influenciar a forma final do infográfico, as referências visuais obtidas podem impor uma forma dominante e tudo se organizará em torno dela, em outros casos é a dinâmica dos fatos que pode conduzir o infográfico, determinando a distribuição dos elementos. Por isso, o o primeiro passo é dispor das informações relevantes. A elaboração do projeto dependerá do tipo de pergunta à qual o infográfico responderá – o que, neste ponto aproxima a produção de infográficos do trabalho científico. Autor apresenta uma classificação que é adaptação feita por ele a partir da descrição de Yin (2005) do método de pesquisa análise de caso. Assim, propõem que existem tipos de infográficos que são mais adequados a determinadas perguntas (olhar tabela abaixo).
A forma do texto deve obedecer à regra de apresentar as informações mais relevantes no início, de modo a responder quem fez o que, quando, como, onde, por que fez ou ainda o que foi feito. Moraes considera ainda o papel do infográfico como mediador do entendimento, dividindo-se em três categorias:
Infográficos exploratórios – constituem-se no nível mais simples quanto à complexidade das informações e apresentam as formas mais elementares de visualização de dados. Tomam por base uma representação de objeto, personagem ou região – uma foto, um mapa ou planta, uma perspectiva – e a ela acrescentam informações de caráter descritivo, como medidas, tipo de material empregado, pontos de referência, etc. São adequados para situações em que a descrição do elemento é o objetivo principal do infográfico. Incluem-se aí mapas, plantas, vistas, perspectivas, perspectivas explodidas, ilustrações do personagem caracterizado ou empregando determinado equipamento ou uniforme, etc. Estão incluídos nesta categoria os infográficos estatísticos, já que este são utilizados para apresentar ou descrever de forma objetiva um determinado fenômeno capaz de ser mensurado.
Infográficos explanatórios – são aqueles cuja a finalidade é explicar o funcionamento de determinado objeto ou as diversas relações – de parentesco, de causa e efeito, organizacionais, etc. – intrínsecas a determinado fenômeno, ou ainda como este se desenvolve no espaço e no tempo, assumindo em alguns casos funções narrativas. Diagramas, quadros do tipo passo a passo, etc, podem ser incluídos nesta categoria. Os fluxogramas são considerados aqui explanatórios e não descritivos porque representam relações de subordinação ou organização expressa por símbolos (a forma das células, setas) previamente determinados para isso. A decodificação do conjunto desses símbolos é que permite a compreensão das relações, explicando-as.
Infográficos historiográficos – são aqueles que tomam por base uma sucessão de eventos históricos e têm por objetivo contextualizar um determinado elemento em relação a esses eventos. Sua forma mais característica é a linha do tempo ou cronologia, na qual os fatos são dispostos segundo uma ordem cronológica. Podem ser associados a fotografias, ilustrações, que neste caso funcionam como registro de um determinado evento no recorte indicadona cronologia.
Identificadas as perguntas e encontradas as respostas, o projeto do infográfico deve ser então desenvolvido de modo a organizar os elementos no espaço previsto com o objetivo de satisfazer os leitores. Pode-se começar partindo do elemento ou da informação que se queira destacar. A visualização de dados numéricos ou de dados estatísticos demanda objetividade e não se deve interferir demais em sua apresentação (com ilustrações e vinhetas) para não comprometê-la. Enquanto para os outros tipos de gráficos, segue-se o princípio do emprego de uma imagem dominante. Esse princípio se apoia nos resultados das pesquisas Eyetrack, que avaliaram o deslocamento dos leitores pelo espaço da página, apontando, que elementos detêm seu olhar, que tipos de rotina utilizam para a leitura ou o modo como processam os elementos da página. Segundo a pesquisa feita em 1991, fotografias e artes (ilustrações e infográficos) são os elementos que apresentam maior índice de de processamento, ou seja, são efetivamente vistos pelos leitores. Além disso, essa imagem acaba funcionando como um ponto de entrada no infográfico e consequentemente na página: o leitor se deslocaria na espaço a partir dela. No caso dos infográficos digitais, esse princípio não se aplica com a mesma frequência, já que outros elementos cumprem a função de servir de ponto de entrada.
Nesta imagem de representação do objeto infográfico alguns detalhes que possam individualizá-lo ou prejudicar sua identificação devem ser suprimidos, sendo destacados os elementos que caracterizam e identificam qualquer objeto daquele universo. A imagem ainda deve veicular informações necessárias ao entendimento do tema. Enquanto, a organização dos elementos, deve ser orientada pelos mesmos princípios de hierarquização editorial, como os listados a seguir:
- A forma tipográfica empregada, o posicionamento no espaço, a área que ocupa, todos esses elementos contribuem para expressar a importância relativa das peças.
- Outro fator a ser considerado é o objetivo do infográfico, destacando-se este objetivo das demais partes do trabalho.
- Cada uma das partes deve ser identificada por um título e cada um deles deve ser menor que o principal, expressando assim uma hierarquia.
- Os blocos de texto funcionam melhor quando aparecem próximos das imagens ou elementos aos quais se referem.
- Setas ou fios não devem ter importância maior do que realmente têm: são elementos de ligação ou orientação.
Por fim, o objetivo de satisfazer os leitores atendendo suas expectativas deve ser considerado com cuidado. Um infográfico cumpre o papel de intermediar a troca de informações entre quem as edita e quem as recebe (os leitores). Essa mediação supõe certa facilitação – não confundir com superficialidade – de modo a tornar claras informações complexas. Não se deve oferecer imagens belas e grandes que não informam, tampouco, desenvolver infográficos herméticos, complexos, sobrecarregados de informações e, consequentemente, difíceis de serem decodificados. Um infográfico é uma espécie de serviço de utilidade pública, posto que traduz uma informação complexa para a massa de leitores.
Terminada esta etapa, o projeto é então avaliado em relação aos objetivos do infográfico, às informações apuradas e também quanto ao tempo previsto para a produção.
Produção: as estratégias para a produção é a divisão do trabalho de acordo com as características das pessoas envolvidas e a estimulação dos designers e pessoal envolvido com a infografia a escreverem os textos dos infográficos, inclusive os títulos. Igualmente importante, especialmente para os impressos é a integração do infográfico com a página. Infográficos fechados são aqueles limitados por fios e dispostos na página como se fossem fotografias. São adequados à cobertura ordinária e geralmente aplicam o padrão desenvolvido para o projeto gráfico do veículo. Infográficos abertos são aqueles que não tem fios em seus limites e que também não se inscrevem numa forma geométrica simples (como quadrados ou retângulos). Invadem a mancha de texto e se deixam penetrar por ela, tornando a página um sistema único, integrado. Nesse caso, o projeto do infográfico é o próprio projeto da página.
Avaliação da página: Esta etapa divide-se em duas partes, uma é predominantemente verbal e engloba a revisão do texto para a publicação, enquanto a outra é editorial e está ligada ao conjunto da peça. Deve-se avaliar o infográfico em relação aos seus objetivos e em relação ao tema, à história: são avaliados a coerência com o tema e os seus textos; sua coerência visual; a adequação da paleta de cores empregada; a adequação da tipografia; a legibilidade das peças; o dimensionamento dos elementos em relação à sua relevância no conjunto; os recursos empregados para animá-los ou os efeitos pretendidos, no caso dos digitais.
Ary Moraes acrescenta ainda, o manifesto proposto por dois consultores espanhóis – Juan Antonio Giner e Alberto Cairo- que lançou uma relação de seis princípios básicos do design de infográficos ou de visualizações de dados. Em sua essência, são os mesmos pregados pelas consultorias nos anos 1980, quando a infografia se estabeleceu, e propagados pelos cursos e seminários oferecidos em Navarra, notadamente os que ocorrem paralelamente aos Prêmios Malofiej. São eles:
- Um infográfico é por definição uma apresentação visual de fatos e dados. Por este motivo, nenhum infográfico pode ser produzido sem informações confiáveis;
- Nenhum infográfico deve incluir elementos que não sejam baseados em fatos conhecidos ou evidências disponíveis;
- Nenhum infográfico deve ser apresentado como verdadeiro quando for fictício ou se apoiar em pressupostos não verificados;
- Nenhum infográfico deve ser publicado sem que sejam identificadas suas fontes de informação;
- Profissionais envolvidos na produção de infográficos devem se recusar a produzir qualquer apresentação visual que inclua elementos fictícios ou projetados para torná-lo “apelativo” ou “espetacular”. Editores não devem considerar pedir gráficos que não sejam baseados em evidências disponíveis;
- Infográficos não são ilustrações ou arte. Infográficos são jornalismo visual e devem se orientar pelos mesmos padrões éticos que se aplicam a outras áreas da atividade;
Moraes, finaliza o livro acrescentando que infográficos não expressam opinião, porém explicam, descrevem ou ainda reportam os fatos contextualizando-os para o público. A linguagem verbal se faz presente de forma explícita, palavras e imagens compõem um mesmo texto multimodal e são lidas em conjunto e que por isso, não utilizava ponto final nos textos de seus infográficos, pois, se o fizesse, separaria duas partes de um único texto, indissociáveis: palavra e imagem.